Um passeio

Janta comigo essa noite
E desfaz, no tempo, o contato das horas
Diz-me um pouco prontos ditos
E despede dos olhos o sono esquecido.

Planta comigo uma planta
E conta os dias que crescem
Deixe-me olhar os olhos
Como se olvidar fosse impossível.

Anda ainda alguns passos
Me deixe escolher abraçar suas mãos
Desdiz do espaço o efeito
Num sol de retorno do meio.

Cansa, pois, um minuto
Pois há muito já me acompanha
E eu, finalmente, espanto
A solitude
E descanso em nós sinceramente.

Calo

Por que pesa a sua alma?
Perdi seu sorriso na última frase.
Nós ainda ríamos, onde
pois, pararam os seus olhos?

Navega um outro porto
Interno ou tão distante
Como esse espaço, tão chegado
Que sempre nos diz um lugar
Onde os afetos são pavios
Em apagando-se.

Eu o leio, distante é a pessoa
De meu verbo -
Eu o leio como se lê num idioma desconhecido
Mas esse seu coração -
Peregrino distante,
É de antes um conhecido meu...

Ternos afetos
Descansam em outra estrutura, pois
Agora: onde foi parar sua alma?
Porque pesam teus olhos?
Volta a sorrir.

Helena

Aquela cantata antiga
Casada num recôndito celeste
Os sorrisos de vida sem métrica:
Não conto seus dedos -
Mas esses sorrisos cantavam seu nome,
Helena.

Por que me deparo à lembrança hoje?
Esse novo tipo de lar me desenha a memória sempre ali,
com olhos mudos,
futuro adiante.

Combinei-me com o por-do-sol
e não há por aqui cor alguma
a ser comparada com aquela que enfeitava tuas feições
sem esquecimento.

Sorrio, breve.
A cantata antiga então ressoa,
ela canta o mesmo refrão.
Esta noite cantarão ainda meus lábios,
Tua doce cor
Ou um nome eterno, por onde me encontro:
Helena.