Riso

O despertador leve
De coração adormecido 
De vida sem pulso 
E de velhas lembranças

Reuniões de professores

E a doce lembrança primária retorna leve:
"Professora Joyce, o que é uma ressalva?"
"É uma anotação que fazemos aqui embaixo quando cometemos um erro na escrita."

Suntuoso silêncio

Estava sentada ali pelo terceiro banco que se conta de trás para a frente, quando observou o homem ao teclado. Seus olhos estavam acostumados a ver a mesma figura por anos seguidos, mas não aquele simples olhar, como a criança olha o sanfoneiro. Ele levantou os olhos ao violonista e tentou acompanhar a música, que breve termina assim como a mocidade.
Estava sentada no banco do passageiro quando viu a amiga-motorista chorando a possível descoberta da desilusão. Pela amizade tão terna, a família confiava-lhe um lugar à mesa, e o rosto delicado de sua amiga era mesmo como o de uma cena de filme inesquecível, mas nunca a cena lhe parecia tão nitidamente o eco da dor. Não desejava fugir daquela dor.
Estava recostada em um cadeira quando ouviu sua voz. Naquele dia não havia algo semelhante aos dias em tanto parecidos. Os cabelos brancos estavam ali para dizer que os dias já não eram iguais. Aquela voz era de anos parente próxima, porém sempre distava daquela dos anos laranja e também de seus ouvidos.
 A vida é o único solo sobre o qual se pode pisar e ainda pisar diferente, onde se pode esquecer o nome sem esquecer o rosto e morar em moradas distantes. O único chão onde os passos adentram novas esquinas e onde as realidades existentes finalmente despertam de seus sonhos, regados a sono leve.